Crise no BRB e Banco Master: por que o escândalo segue abafado apesar da gravidade?
- GUIA MIRAI

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Por Guia Miraí
O esquema financeiro envolvendo o Banco de Brasília (BRB) e o Banco Master, que deveria estar no centro do debate público, segue recebendo atenção limitada nos grandes veículos de imprensa e provocando questionamentos sobre quem tem interesse em silenciar o caso.
A situação ganhou novos contornos após a prisão do dono do Banco Master e da revelação de tentativas de articulação política para autorizar a compra da instituição pelo BRB, mesmo após a negativa formal do Banco Central.
Agora, setores da sociedade civil, sindicatos e movimentos organizados se unem para exigir responsabilização e transparência, pressionando diretamente o Governo do Distrito Federal (GDF), apontado como peça-chave nas tentativas de emplacar a negociação.
Por que o caso está abafado? Os motivos que explicam o silêncio
1. Forte influência política do governador Ibaneis Rocha
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), é apontado como protagonista na tentativa de fazer avançar a compra do Banco Master pelo BRB, mesmo após alertas técnicos e o veto do Banco Central.
Sua influência sobre setores do Executivo, Legislativo e até do Judiciário — como destacam lideranças sociais — cria um ambiente em que denúncias perdem força e apuração enfrenta resistência.
Além disso, Ibaneis tem relações históricas no meio jurídico e político que ajudam a reduzir a repercussão do escândalo nas instâncias onde a crise poderia ganhar tração.
2. Controle político sobre o BRB e tentativas de intervenção na CLDF
Segundo denúncias, o GDF pressionou a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) para aprovar, em regime de urgência, uma lei que autorizaria a operação de compra — uma “lei sob medida”, como classificou o deputado distrital Fábio Félix (PSOL).
Essa articulação política contribuiu para criar um ambiente em que questionamentos foram abafados, discussões técnicas foram atropeladas e a transparência ficou em segundo plano.
3. Falta de cobertura robusta da grande imprensa
Apesar da gravidade — que envolve:
• prisão de banqueiro,
• operações da Polícia Federal,
• risco ao patrimônio público,
• suspeitas de práticas temerárias,
• tentativa de compra de banco com “ativos podres”,
o caso não tem recebido cobertura proporcional ao impacto.
Analistas apontam que isso ocorre porque o BRB e o Governo do DF possuem publicidade institucional significativa e forte relação com veículos de mídia regionais, o que pode influenciar a visibilidade do escândalo.
4. Complexidade técnica que dificulta a compreensão pública
A operação envolve termos financeiros, autorizações regulatórias e análises técnicas que afastam o interesse imediato do público.
Casos complexos costumam ser menos explorados até que um componente mais “espetacular” surja — como prisões, operações policiais ou vazamento de documentos.
Esse fator ajuda a manter o caso fora do radar popular, ainda que especialistas alertem para riscos reais ao patrimônio do Distrito Federal.
5. Substituições rápidas na direção do BRB para amenizar danos
Após as revelações das investigações e a prisão do dono do Master, o governador determinou o afastamento do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa.
O movimento, visto por críticos como uma tentativa de “estancar” o desgaste, reduziu temporariamente a pressão política, contribuindo para o abafamento.
O indicado para assumir o comando do banco, o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Nelson Souza, será sabatinado na CLDF na próxima terça-feira (25).
O deputado Fábio Félix divulgou um abaixo-assinado pedindo a abertura de uma CPI do BRB/Master, que já soma mais de 6 mil assinaturas.
No documento, ele lembra que:
• a oposição alertou para riscos da operação;
• havia críticas de falta de transparência;
• o Banco Central rejeitou a compra;
• o Banco Master tinha histórico de práticas financeiras temerárias e ativos podres.
Mesmo assim, segundo o parlamentar, houve pressão do GDF para aprovar a negociação.
Para Félix, a CPI é essencial para proteger o patrimônio público e restabelecer a confiança na gestão do banco público do DF.
A CUT-DF, junto a outras entidades sociais e trabalhistas, convocou um grande protesto em frente ao Palácio do Buriti na última segunda-feira (24), às 17h.
O foco da mobilização foi exigir:
• investigação completa;
• responsabilização do GDF;
• defesa do patrimônio financeiro do Distrito Federal;
• transparência nos processos envolvendo o BRB.
Segundo o presidente da CUT, Rodrigo Rodrigues, os motivos da tentativa de compra “nunca foram explicados” pelo governador:
“Ontem tivemos a prisão do dono do Banco Master, denúncias envolvendo o BRB, operações da PF… Precisamos dar uma resposta. O governador tem influência no Judiciário, há ligações diretas entre os envolvidos. É uma crise gigantesca, e escancara a necessidade de mudar os rumos dessa cidade.”
Com as prisões, denúncias e mobilizações, cresce a percepção de que a CPI não apenas é necessária, mas pode se tornar inevitável.
A crescente pressão popular — em especial após o envolvimento da Polícia Federal — aumenta o desconforto político e torna mais difícil manter o caso abafado.
Mesmo com tentativas de moderação na cobertura, trocas rápidas no comando do BRB e articulações políticas, o caso reúne elementos explosivos demais para permanecer oculto:
envolve dinheiro público, influência política, operações federais e uma transação recusada pelo Banco Central.
A sociedade civil está mobilizada, sindicatos estão nas ruas e parlamentares exigem investigação.
O escândalo pode estar momentaneamente abafado, mas dificilmente permanecerá assim diante da ventilação crescente dos fatos.









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