MINERADORA QUER REMOVER CASAL DE IDOSOS DE SUA PROPRIEDADE PARA ENTULHAR REJEITOS EM ÁREA VERDE EM MINAS
- GUIA MIRAI

- 17 de jul.
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Desapropriação e Memória: A Luta de uma Família em Congonhas

Por Guia Miraí
(Com informações de O Tempo)
A cidade de Congonhas, em Minas Gerais, vive um momento de grande tensão devido à desapropriação da casa de João, 74, e Geralda, 66. O casal, que reside há quase um século no distrito de Santa Quitéria, vê sua vida ser transformada por uma ordem judicial que autoriza a desocupação de sua propriedade, que está localizada em uma área onde a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) planeja instalar uma pilha de rejeitos. A decisão foi tomada antes mesmo da aprovação do licenciamento ambiental, o que gerou uma série de preocupações sobre os impactos ambientais da medida.
A casa da família não é apenas um espaço físico, mas um verdadeiro símbolo da comunidade. Cercada por nascentes e árvores nativas, ela guarda a memória de diversas gerações. Ali, as netas de João e Geralda nadaram em uma piscina natural, e o fubá era moído no antigo moinho de pedra do avô, enquanto o forno de barro exalava o cheiro dos biscoitos feitos pela matriarca. “A gente não tem apego ao luxo, tem apego à memória”, declara dona Geralda, emocionada, ao relembrar os momentos que marcaram sua vida e de sua família no local.
No dia 15 de julho, a família enfrentou uma situação tensa quando oficiais de justiça e seguranças da CSN chegaram ao local para cumprir a ordem de desapropriação. João, que atualmente toma medicamentos para tratar depressão e ansiedade, passou mal com a situação, mas foi necessário recuar. A casa em que vivem é uma das poucas na área que possui escritura regular, e segundo informações da CSN, 27 dos 30 imóveis na região já foram adquiridos “de forma amigável”, ou seja, com acordo entre as partes. A casa da família de João e Geralda é uma das exceções.
A decisão de desapropriação foi autorizada por um decreto do governador Romeu Zema (Novo), o que gerou protestos e preocupação entre os moradores da região. O Ministério Público, que acompanha de perto o caso, alerta sobre os riscos de a pilha de rejeitos ser instalada sem os devidos cuidados ambientais, apontando o perigo de deslizamentos e outros danos graves, como o ocorrido em 2023, quando um deslizamento de terra no município de Conceição do Pará deixou 288 pessoas desabrigadas.
Com a desapropriação confirmada e a instalação da pilha de rejeitos, o futuro da comunidade de Santa Quitéria se encontra incerto. “Vamos fazer uma barreira humana”, afirma dona Geralda, demonstrando a força e a esperança de um povo que luta para preservar sua história e sua memória, diante da iminente mudança que ameaça alterar para sempre a paisagem e a vida de muitos.
A história da família de João e Geralda é um reflexo de um dilema cada vez mais comum em muitas regiões do Brasil: o confronto entre o progresso industrial e a preservação ambiental e social. Em um cenário de crescente tensão, a justiça e a preservação dos direitos das famílias precisam ser debatidas e analisadas com a devida atenção e sensibilidade.









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