A inflação recorde para março na história do Plano Real e a acumulada de 11,3% nos últimos 12 meses, combinada à estagnação dos salários, colocam as famílias brasileiras num buraco que muitas vezes as força a recorrer ao crédito para fechar o orçamento do mês. É o que mostra projeção da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que estima um crescimento de 8,3% na carteira total do crédito em 2022. Essa alta é acompanhada também de uma inadimplência em escalada de 4%. Os dois percentuais superam as avaliações de fevereiro, que apontavam para uma alta dos empréstimos bancários neste ano de 7,6% e da dívida em atraso de 3,7%.
Ou seja, as instituições financeiras projetam um aumento de quase dois dígitos nos empréstimos no Brasil, mesmo em um cenário no qual a taxa básica de juros está em 11,75%, com indicações de que pode bater até além dos 13%. Para efeito de comparação, o índice era de 4,15% em fevereiro de 2020, antes da pandemia. Os indicativos são de uma população que perde poder de compra e precisa recorrer a empréstimos em condições nada favoráveis.
Para o economista Vinícius de Castro, professor de mercado de capitais da PUC Minas, a população precisa ficar atenta para não apertar ainda mais o orçamento. Ele indica três caminhos para desafogar. “Se a família entende a situação real, fica mais fácil ter um consenso para ajustar o padrão de vida. Outra dica é desinvestir: pensar em alguma coisa que possa atenuar o endividamento que já está criado. E, dentro do possível, gerar uma renda extra, o que nem sempre é fácil”, aponta.
O especialista em economia também alerta para possíveis armadilhas na hora de contratar o crédito. Com as facilidades oferecidas pelo CDC automático, no qual o cidadão consegue empréstimos sem passar por avalistas e pelo internet banking, é preciso se atentar aos juros cobrados: em alguns casos, os bancos já se adéquam à taxa estimada de 13%, em vez de incidir os 11,75% oficiais da Selic.
“Dependendo da modalidade de crédito que a família contrair, ela está sujeita a um juro que vai aumentar até o final do ano, embora as perspectivas para o final do ano que vem sejam melhores. Agora, a perspectiva muda também toda semana. É difícil prever”, afirma Vinícius de Castro.
O prognóstico internacional também entra em jogo para o especialista. Segundo o professor da PUC, os Estados Unidos estão com uma taxa de juros defasada, o que gera uma inflação perto dos 9%. “Com eles aumentando juros lá fora, é mais uma pressão para manter os juros altos aqui, o que resulta em empréstimos menos favoráveis. Ainda tem a questão da guerra e as eleições na França. São coisas que geram instabilidade para o Banco Central, que tende a manter a Selic alta”, explica Castro.
Na pesquisa da Febraban, porém, a maioria das instituições financeiras acredita que a elevação dos juros nos EUA já está relativamente precificada pelo mercado, não devendo gerar grandes impactos (negativos) adicionais aos países emergentes, como o Brasil.
Críticas ao Copom
A maioria dos banqueiros avalia como temerária a sinalização do Conselho de Política Monetária (Copom) de aumento da taxa básica de juros em 1 ponto, o que a elevaria para 12,75%. Para as instituições financeiras, o Copom não deve atrelar a política monetária ao preço do petróleo.
O risco apontado pela Febraban é que o Copom perca “o controle das expectativas” e tenha “que rever sua estratégia em sua próxima reunião”. Conforme a pesquisa da federação, 42,1% dos banqueiros ouvidos estão contra a projeção do Banco Central.
Por outro lado, 31,6% dos entrevistados concordam com o provável reajuste da Selic por conta do “cenário altamente incerto”. Para essas pessoas, a medida do Copom “é suficiente para levar a inflação para a meta” de 3,5%, que pode variar entre 2% e 5%.
A grande maioria dos banqueiros (84,2%) segue esperando alguma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, mas agora mais participantes (36,8%) projetam crescimento acima de 0,5%.
GUIA MIRAI por O Tempo
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