BRASILEIROS TEMEM MAIS FOME DO QUE A VIOLÊNCIA DIZ ESTUDO
- GUIA MIRAI
- 11 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Com 8,5 milhões de pessoas sem comida, país desperdiça 55 milhões de toneladas de alimentos

Com 8,5 milhões de vítimas no Brasil, a fome é a principal preocupação da população. Pelo menos essa foi a resposta de 63% dos entrevistados no estudo “A comida que jogamos fora”, feita pela empresa MindMiners. A insegurança alimentar tira o sono de mais pessoas do que o crescimento da violência, por exemplo, conforme o levantamento.
O pensamento, no entanto, não condiz com as ações em um país onde, a cada ano, 55,4 milhões de toneladas de alimentos são jogados fora, segundo o Pacto contra a Fome, instituição não governamental que busca soluções para reduzir a insegurança alimentar. O Brasil, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), é o décimo país que mais desperdiça alimentos no mundo – mais um contraste no país, reconhecido mundialmente por sua vasta produção agrícola, ao mesmo tempo que desperdiça 30% dela, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quadro de desperdício de alimentos é tão comum pelo mundo que a ONU estabeleceu o dia 29 deste mês como o Dia Internacional da Conscientização sobre Perda e Desperdício Alimentar.
As perdas são diluídas nas diferentes fases da cadeia produtiva. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na parte da produção, elas ocorrem por colheitas inapropriadas, ataque de pragas, doenças e desastres naturais. “O desperdício está enraizado em toda a cadeia alimentar. No Brasil, um desafio é o transporte de alimentos. Produtos agrícolas precisam de circuitos curtos para evitar perdas, mas as grandes indústrias e supermercados seguem uma suposta rede inteligente que iguala industrializados a alimentos in natura. Assim, o desperdício é nacionalizado”, avalia a especialista em sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV), Jéssica Chryssafidis.
Ainda segundo a Embrapa, quando chega ao consumidor, o alimento também pode ser desperdiçado. Uma das explicações é cultural, devido ao hábito de servir grandes quantidades à mesa. Representante do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas no Brasil, Daniel Balaban explica que há cobrança até por determinada estética do que é consumido. “O supermercado quer alimentos bonitos, então a cenoura deformada, que tem o mesmo sabor, é jogada fora”, explica.
Para evitar o desperdício desses alimentos “rejeitados”, a CeasaMinas (Centrais de Abastecimento de Minas Gerais) gerencia um projeto de um banco de alimentos, o Prodal, que seleciona frutas, verduras e legumes que seriam descartados por questões estéticas. Esses produtos são selecionados, higienizados e distribuídos a instituições que apoiam pessoas em situação de vulnerabilidade econômica.
São doadas 27 toneladas de alimentos por mês para 125 instituições, beneficiando mais de 20 mil pessoas. “É uma ferramenta para atender à população carente, reduzir a perda de alimentos e reduzir o custo de operação”, diz Wilson Guide, economista e gestor do departamento técnico da Ceasa.
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), capital mineira, aposta em cozinhas comunitárias como estratégia para combater a insegurança alimentar. A ideia da Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania (SMASAC) é ter uma unidade em cada uma das nove regionais da cidade. O projeto-piloto nasceu em abril do ano passado, no aglomerado Cabana do Pai Tomás, na região Oeste de BH, e atualmente distribui 350 refeições diariamente. Agora, ele deve ser ampliado. Um edital está aberto até 11 de setembro para atrair Organizações da Sociedade Civil (OSCs) interessadas.
“O objetivo do espaço não é somente entregar refeição, mas desenvolver atividades de educação, com orientações nutricionais”, explica Joyce Andrade Batista, gerente de apoio à gestão das unidades de alimentação popular.
Para fomento da agricultura familiar, o governo federal anunciou, na última segunda (9), o Plano Safra em Minas Gerais, que disponibilizará R$ 7,2 bilhões em linhas de crédito para produtores mineiros. Conforme o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Paulo Teixeira, um dos objetivos é garantir acesso à tecnologia. “Queremos mecanizar o campo para o agricultor ter mais facilidade no trabalho e maior produtividade”, diz.
As hortas comunitárias são outra aposta: BH tem 57 áreas de produção de alimentos, em mais de 150 m² de área cultivada. Essa é uma das ações incentivadas no Programa Nacional de Agricultura Urbana, decretado no segundo semestre de 2023 pelo governo federal. Conforme a especialista em sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV) Jéssica Chryssafidis, o principal desafio é tornar as hortas urbanas políticas efetivas e independentes da gestão: “Trata-se de justiça alimentar. Quem tem fome não tem energia para plantar. Ao contrário, como política pública, a produção agrícola é direcionada para os mais vulneráveis”.
GUIA MIRAI
(co. Informações de O Tempo)
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